domingo, 29 de janeiro de 2017

ENCONTROS IMEDIATOS DO 3º GRAU (1977)

PONTUAÇÃO: MUITO BOM 
★★★★★ 
Título Original: Close Encounters of the Third Kind
Realização: Steven Spielberg
Principais Actores: Richard Dreyfuss, François Truffaut, Teri Garr, Melinda Dillon, Bob Balaban, Cary Guffey 

Versão do Realizador

Crítica:

OS SINAIS E O CONTACTO 

Major Walsh, it is an event sociologique.
Claude Lacombe 

Encontros Imediatos do 3º Grau é, por variadíssimos motivos, um dos mais icónicos e extraordinários filmes de Spielberg. Desde cedo fascinado pela cultura popular dos OVNI's, a obra concretiza o abraço duvidoso dos grandes estúdios de Hollywood à temática, numa altura em que a Columbia Pictures encarava sérios problemas financeiros. O devaneio de Spielberg era considerado um risco, mesmo estreando-se na sequência do estrondoso sucesso de Tubarão, considerado o primeiro blockbuster de todos os tempos. Por isso mesmo se estreou em apenas 2 salas, a medo, antes do êxito se propagar pelo país e, depois, por todo o mundo. Alimentaria e ajudaria a expandir o fenómeno dos extraterrestres como poucos, na verdade e de forma incontornável, seguindo-se o acarinhado E.T. - O Extraterrestre em 1982 e só em 2005 o tão subvalorizado Guerra dos Mundos, numa altura em que a sua fé se rendera ao cepticismo - ou não tivessem os avistamentos tão misteriosamente abrandado, em inícios do século XXI, numa era tão marcadamente tecnológica e em que as câmeras de filmar proliferaram. 

A história é sobre pessoas banais (traço comum nas obras do cineasta) que, em circunstâncias extraordinárias, são alvo do extraordinário e concretizam o extraordinário. O Roy de Dreyfuss é exatamente uma dessas pessoas, que se vê alienado do seu dia-a-dia e da sua família por força de um chamamento superior, que o impele e desafia numa busca existencial, em busca de significado, de revelação, de respostas às suas muitas perguntas. O argumento mergulha o fascínio extraterrestre com um complô à escala internacional, que tenta esconder, no maior dos secretismos, os sinais e os contactos entre os humanos e as criaturas desconhecidas. A narrativa avança num impressionante crescendo de suspense, entre cenas em que discos luminosos e voadores rasgam os céus nocturnos, navios aparecem misteriosamente no meio de desertos ou adoráveis crianças são, na sua desarmante inocência, atraídas pelo desconhecido e sequestradas pelos invasores. Nem por um momento, no entanto, Spielberg deixa antever se os extraterrestres nos querem bem ou mal. O segredo adensa-se como o mais forte dos nevoeiros e nós, que presos ao filme nos encontramos, embrenhamo-nos sem resistência. 

Nota para a presença de François Truffaut como Claude Lacombe - Spielberg sempre pensou nele como ideal para o papel, por se tratar de uma criança grande ou de um adulto que vê o mundo com os olhos e a natureza de uma criança. Segundo Spielberg, Encontros é para adultos capazes de se entregarem ao desconhecido com a mesma fé - incondicional - de uma criança. Da mesma forma, espontânea, com que o pequeno Barry (brilhante Cary Guffey) abre a porta de sua casa ao mistério. Destaque ainda para o cuidado inspirado no fecho de determinadas cenas: são como demonstrações de amor à arte, numa arquitetura da cena ao mais ínfimo pormenor, do primeiro ao último instante.

Encontros estreou no mesmo ano de Guerra das Estrelas - o contributo de ambos os filmes para a ficção científica é evidente; não obstante Spielberg preferisse chamar-lhe, no seu caso, especulação científica. Contudo, o poder imagético daquele grandioso final não só ecoa na memória do espectador que adora o género como na própria História do Cinema. Spielberg arquitectou um fascinante espetáculo de luz e som no cume da Torre do Diabo (Wyoming) - para sempre associada ao filme - como se pela matemática da música enquanto linguagem universal fosse possível o contacto e a comunicação. O grande mistério culmina ali, na audaciosa orquestração de John Williams a partir das cinco notas, na extravagância visual da Direção Artística de Joe Alves e Daniel A. Lomino e no portento de fotografia de Vilmos Zsigmond - a experiência transcende-se num momento absolutamente mágico, belo e inebriante.

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