★★★★★
Título Original: Zivot je cudoRealização: Emir Kusturika
Principais Actores: Slavko Stimac, Vesna Trivalic, Natasa Solak, Vuk Kostic, Aleksandar Bercek
Crítica:
A VIDA É BELA!
Hilariante. Delirante. Contagiante. Assim é o universo de Kusturica e assim é este magistral A Vida É Um Milagre. Há quem diga que é mais do mesmo e eu compreendo. Porém, não resisto a tão extraordinária proposta artística: à paródia, à festa, à música, ao êxtase, à confusão, aos tiros e a todas as gargalhadas espontâneas e despregadas que me provoca. Adoro Kusturica, adoro. Adoro reencontrar todo aquele devaneio felliniano, qual Amarcord, mas levado ao extremo! Aquela natureza humana tão próxima dos prazeres da vida, da essência da vida, representada com rasgos de genial comédia... Aquele gypsy tão enérgico, tão frenético e descomprometido... aquela sátira à História recente e aos costumes culturais de um povo que Kusturica tão bem conhece. Mais do que fabuloso, este A Vida É Um Milagre é maravilhoso.
Imagine-se o cenário ideal para a mais mirabolante, trágica e romântica das histórias: a paz de sérvios montes verdejantes, íngremes e isolados, agora atravessados por uma linha férrea em construção e povoados por um leque de personagens caricatas e em tudo fascinantes: Luka (Slavko Stimac), um engenheiro humilde, também flautista na filarmónica da terra, habita uma casa modesta mas a transbordar de animais: gansos, patos, pombos, galinhas, uma cadela que segue os donos para todo o lado e um gato preto e branco e comilão, tão anafado que já só espera que os pombos caiam do poleiro para petiscar. Luka vive com a mulher, Jadranka, uma cantora lírica completamente tresloucada, que está sempre ao telefone e que é alérgica ao pó, e com o filho, Milos - um adolescente com más companhias e que sonha ser estrela de futebol. Há uma tia que gosta de ser socada no rabo. Há um velho, que traz sempre consigo um caixão e que supostamente já morreu há cinco anos, e que só é visto pelo carteiro bêbedo. O morto-vivo tem uma burra, que chora a desilusão amorosa sobre a linha do comboio, à espera que as carruagens lhe tragam o suicídio. O Sr. Presidente da Câmara é um gordo fanfarrão que só sabe é enfardar comida e que tem uma mulher, muito ciosa da sua cadelinha, completamente pirosa mas que se acha muito chique. É uma gente que não perde uma ocasião para se juntar, comemorar, cantar, tocar, dançar e beber até cair, que tem a febre do futebol e que em vez de serpentinas atira rolos de papel higiénico, na efusão da festa. É uma gente unida, sobretudo para caçar os ursos que lhes entram, sem convite ou autorização, pelas casas e banheiras, mas naturalmente corrupta e pouco civilizada. Mas todos se entendem e todos se divertem nas suas vidas ordinárias e rocambolescas, à beira do absurdo.
Quando a guerra rebenta, todavia, todas estas rotinas e existências são postas em causa. Milos é chamado para a tropa e, posteriormente, para o conflito. Esfumam-se os sonhos do futebol, tão próximos de serem concretizados, e as possibilidades de felicidade. Jadranka, a sua mãe, foge com um húngaro cimbalista. E Luka fica a sós com a cadela, o gato e os restantes animais que circulam pela linha - o único acesso à aldeia. Um mal-entendido traz até si a loirinha e lindíssima Sabaha, uma enfermeira de nacionalidade inimiga, e um amor genuíno e completamente inesperado. Haverá hipóteses para estes Romeu e Julieta em tão difíceis tempos de guerra?
O resto da história é tão incrível, desconcertante e imprevisível como qualquer outra com a assinatura de Kusturica. O que acontece é que cada uma delas tem particularidades únicas e, de obra para obra, há um aprimorar da qualidade técnica e da marca narrativa do cineasta. Os seus créditos na direcção artística (Milenko Jeremic, Radoslav Mihajlovic), nomeadamente, nunca foram tão arrojados e sublimes. A fotografia de Michel Amathieu e o seu primor visual constitui um trabalho de exímia magnificência. E o cuidado esmerado e assaz talentoso da equipa estende-se ao som e à composição musical. Estamos, pois, perante um filme tecnicamente irrepreensível, ainda rico em performances e em alma.
A Vida É Um Milagre é, por tudo isto, um autêntico clássico instantâneo! Belíssimo, absolutamente inesquecível e a não perder.
Imagine-se o cenário ideal para a mais mirabolante, trágica e romântica das histórias: a paz de sérvios montes verdejantes, íngremes e isolados, agora atravessados por uma linha férrea em construção e povoados por um leque de personagens caricatas e em tudo fascinantes: Luka (Slavko Stimac), um engenheiro humilde, também flautista na filarmónica da terra, habita uma casa modesta mas a transbordar de animais: gansos, patos, pombos, galinhas, uma cadela que segue os donos para todo o lado e um gato preto e branco e comilão, tão anafado que já só espera que os pombos caiam do poleiro para petiscar. Luka vive com a mulher, Jadranka, uma cantora lírica completamente tresloucada, que está sempre ao telefone e que é alérgica ao pó, e com o filho, Milos - um adolescente com más companhias e que sonha ser estrela de futebol. Há uma tia que gosta de ser socada no rabo. Há um velho, que traz sempre consigo um caixão e que supostamente já morreu há cinco anos, e que só é visto pelo carteiro bêbedo. O morto-vivo tem uma burra, que chora a desilusão amorosa sobre a linha do comboio, à espera que as carruagens lhe tragam o suicídio. O Sr. Presidente da Câmara é um gordo fanfarrão que só sabe é enfardar comida e que tem uma mulher, muito ciosa da sua cadelinha, completamente pirosa mas que se acha muito chique. É uma gente que não perde uma ocasião para se juntar, comemorar, cantar, tocar, dançar e beber até cair, que tem a febre do futebol e que em vez de serpentinas atira rolos de papel higiénico, na efusão da festa. É uma gente unida, sobretudo para caçar os ursos que lhes entram, sem convite ou autorização, pelas casas e banheiras, mas naturalmente corrupta e pouco civilizada. Mas todos se entendem e todos se divertem nas suas vidas ordinárias e rocambolescas, à beira do absurdo.
Quando a guerra rebenta, todavia, todas estas rotinas e existências são postas em causa. Milos é chamado para a tropa e, posteriormente, para o conflito. Esfumam-se os sonhos do futebol, tão próximos de serem concretizados, e as possibilidades de felicidade. Jadranka, a sua mãe, foge com um húngaro cimbalista. E Luka fica a sós com a cadela, o gato e os restantes animais que circulam pela linha - o único acesso à aldeia. Um mal-entendido traz até si a loirinha e lindíssima Sabaha, uma enfermeira de nacionalidade inimiga, e um amor genuíno e completamente inesperado. Haverá hipóteses para estes Romeu e Julieta em tão difíceis tempos de guerra?
O resto da história é tão incrível, desconcertante e imprevisível como qualquer outra com a assinatura de Kusturica. O que acontece é que cada uma delas tem particularidades únicas e, de obra para obra, há um aprimorar da qualidade técnica e da marca narrativa do cineasta. Os seus créditos na direcção artística (Milenko Jeremic, Radoslav Mihajlovic), nomeadamente, nunca foram tão arrojados e sublimes. A fotografia de Michel Amathieu e o seu primor visual constitui um trabalho de exímia magnificência. E o cuidado esmerado e assaz talentoso da equipa estende-se ao som e à composição musical. Estamos, pois, perante um filme tecnicamente irrepreensível, ainda rico em performances e em alma.
A Vida É Um Milagre é, por tudo isto, um autêntico clássico instantâneo! Belíssimo, absolutamente inesquecível e a não perder.
Concordo.
ResponderEliminarÁLVARO MARTINS: A vida é um milagre, já dizia Kusturica ;)
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Foi o segundo filme que vi do Kusturica, e adorei. Para além do mais, a fotografia é fantástica.
ResponderEliminar*
YIRIEN: É um filme verdadeiramente apaixonante, não é? Sim, sem dúvida, a fotografia é esplendorosa.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «