Realização: Jeff Nichols
Principais Atores: Michael Shannon, Jessica Chastain, Tova Stewart, Shea Whigham, Katy Mixon, Natasha Randall, Ron Kennard, Scott Knisley, Robert Longstreet
Crítica:
O PRESSÁGIO DO APOCALIPSE
There's a storm coming like nothing you've ever seen,
and not a one of you is prepared for it.
and not a one of you is prepared for it.
Procurem Abrigo evoca o melhor suspense de Hitchcock a Shyamalan: até os pássaros trazem o pior augúrio e a dualidade entre o real e o imaginário ou entre o natural e o sobrenatural renova, a cada instante e até ao final, a dúvida no espetador. O medo impera - o drama cede, não raras vezes, ao thriller psicológico e ao terror. Há como que uma sensação de ameaça omnipresente e iminente, lançada pelo negrume daquelas nuvens carregadas; as mesmas que instalam, logo desde a abertura, o mistério e o pânico interior no assustado Curtis de Michael Shannon - naquela que é, seguramente e até agora, a sua mais notável e intensa performance.
Assolado por terríveis sonhos que lhe angustiam a existência depois de acordar, Curtis vê-se involuntaria e obsessivamente obrigado a mudar as suas atitudes, o seu dia-a-dia. Sonha que uma tempestade apocalítica se aproxima e começa a ampliar o abrigo subterrâneo do quintal, qual Arca de Noé, para a proteção da família quando a intempérie chegar. Retira o cão de casa e constrói um cercado na rua, não vá o animal morder-lhe como no pesadelo. Precipitam-se visões e o ouvir de trovoada quando ela, na realidade, não existe. A mãe está há anos internada num lar psiquiátrico e Curtis teme que a genética comece a falar mais alto. Esse passado, aliás, assombra-o mormente. Estranhamente, esconde toda a situação da mulher e da filha surda-muda, que tanto ama e que tanto o amam incondicionalmente, numa paisagem rural tão desoladora que parece acentuar as suas perturbadoras circunstâncias. As premonições não param e Curtis afasta-se de tudo e todos, pondo em causa as suas relações pessoais e o emprego, cujo seguro pagará a operação da filha.
A ação torna-se inquietante, de suster a respiração. Quase que penetramos a conturbada dimensão interior do protagonista e sufocamos nela. Sem artifícios maiores, a humanidade das personagens vem ao de cima, graças à inteligente construção do argumento (Jeff Nichols escreve e realiza) e à verdade das emoções, extraída da direção de atores fora-de-série. Destacam-se, naturalmente, Shannon e a Jessica Chastain - a graciosa Srª O'Brien de A Árvore da Vida, obra-prima de Terrence Malick, que em 2011 ascendeu ao estrelato de Hollywood como uma das suas mais promissoras atrizes. A cena em que Curtis revela à mulher o que lhe está realmente a acontecer é seguramente a melhor do filme (o drama familiar atinge aí o seu auge); pelo menos até então, porque o falso final no abrigo e o efetivo final na praia são tremendos: na encenação, na banda sonora (por David Wingo, uma das principais responsáveis pelo desconforto da experiência), inclusivé na fotografia (Adam Stone)... O escape à claustrofobia imposta pelo abrigo é tão libertador para as personagens como para nós, espetadores.
Procurem Abrigo consegue, pois, surpreender, transcender-nos em emoções e superar-se enquanto objeto fílmico, ascendendo claramente a um patamar superior. Desta obra em diante, Jeff Nichols não é senão um nome a ter em conta. Procurem Abrigo arrebatou-me. Foi uma conquista inesperada e arrepiante, daquelas que justificam e alimentam a nossa paixão pelo cinema. Que excecional pedaço de cinema. Absolutamente imperdível.
Assolado por terríveis sonhos que lhe angustiam a existência depois de acordar, Curtis vê-se involuntaria e obsessivamente obrigado a mudar as suas atitudes, o seu dia-a-dia. Sonha que uma tempestade apocalítica se aproxima e começa a ampliar o abrigo subterrâneo do quintal, qual Arca de Noé, para a proteção da família quando a intempérie chegar. Retira o cão de casa e constrói um cercado na rua, não vá o animal morder-lhe como no pesadelo. Precipitam-se visões e o ouvir de trovoada quando ela, na realidade, não existe. A mãe está há anos internada num lar psiquiátrico e Curtis teme que a genética comece a falar mais alto. Esse passado, aliás, assombra-o mormente. Estranhamente, esconde toda a situação da mulher e da filha surda-muda, que tanto ama e que tanto o amam incondicionalmente, numa paisagem rural tão desoladora que parece acentuar as suas perturbadoras circunstâncias. As premonições não param e Curtis afasta-se de tudo e todos, pondo em causa as suas relações pessoais e o emprego, cujo seguro pagará a operação da filha.
A ação torna-se inquietante, de suster a respiração. Quase que penetramos a conturbada dimensão interior do protagonista e sufocamos nela. Sem artifícios maiores, a humanidade das personagens vem ao de cima, graças à inteligente construção do argumento (Jeff Nichols escreve e realiza) e à verdade das emoções, extraída da direção de atores fora-de-série. Destacam-se, naturalmente, Shannon e a Jessica Chastain - a graciosa Srª O'Brien de A Árvore da Vida, obra-prima de Terrence Malick, que em 2011 ascendeu ao estrelato de Hollywood como uma das suas mais promissoras atrizes. A cena em que Curtis revela à mulher o que lhe está realmente a acontecer é seguramente a melhor do filme (o drama familiar atinge aí o seu auge); pelo menos até então, porque o falso final no abrigo e o efetivo final na praia são tremendos: na encenação, na banda sonora (por David Wingo, uma das principais responsáveis pelo desconforto da experiência), inclusivé na fotografia (Adam Stone)... O escape à claustrofobia imposta pelo abrigo é tão libertador para as personagens como para nós, espetadores.
Procurem Abrigo consegue, pois, surpreender, transcender-nos em emoções e superar-se enquanto objeto fílmico, ascendendo claramente a um patamar superior. Desta obra em diante, Jeff Nichols não é senão um nome a ter em conta. Procurem Abrigo arrebatou-me. Foi uma conquista inesperada e arrepiante, daquelas que justificam e alimentam a nossa paixão pelo cinema. Que excecional pedaço de cinema. Absolutamente imperdível.
Essa película me pegou de surpresa de forma, igualmente, arrebatadora. Gosto muito dos cenários escolhidos por Jeff Nichols para gravar. A beleza do interior também vista no mais recente Mud.
ResponderEliminarObrigado pelo comentário, Raphael Vaz. Estamos de acordo. Volte sempre!
ResponderEliminarRoberto Simões
CINEROAD