domingo, 17 de outubro de 2010

ZATOICHI (2003)

PONTUAÇÃO: BOM
Título Original: Zatôichi
Realização: Takeshi Kitano
Principais Actores: Takeshi Kitano, Michiyo Ookusu, Gadarukanaru Taka, Daigorô Tachibana, Yuuko Daike, Tadanobu Asano, Yui Natsukawa, Ittoku Kishibe, Saburo Ishikura, Akira Emoto, Ben Hiura, Kohji Miura

Crítica:

O ESPADACHIM JUSTICEIRO

Mesmo de olhos bem abertos, não consigo ver nada.

Entre geishas e samurais, o sangue. Sangue vermelho, violento. Sangue estético, jorrando em estilizadas explosões de raiva ou em magistrais golpes de espada. Entre geishas e samurais, o ritmo. O ritmo das enxadas que cavam a terra, o ritmo dos que sapateiam a lama, o ritmo dos que martelam a obra. O ritmo das acções que se funde na música não-diagética (banda sonora de Keiichi Suzuki), conferindo à obra uma musicalidade inesperada. Entre geishas e samurais, a coragem. A coragem de implementar uma visão moderna, dotada de uma tremenda confluência estética, a um conto popular japonês. A coragem de pintar de loiro os cabelos do cego Zatoichi que, em pleno Japão do século XIX, viaja de aldeia em aldeia distribuindo massagens e aparências, com os mais apurados sentidos. A coragem para terminar a sua versão de filme de samurais com um sapateado efusivo e enérgico, ao melhor estilo de Bollywood, entre coreografadas e coloridas brincadeiras visuais.

Kitano compõe uma história de vingança irreverente e visceral - notam-se as influências de Tarantino - com um hilariante sentido de humor: desde o ridículo e espalhafatoso gorducho que, armado dos pés à cabeça, corre, grita, cai e falha os seus sonhos de guerreiro, ao falhado mas companheiro Shinkichi e à beleza irradiante e de meter inveja daquela geisha travesti que, juntamente com a irmã, anseia por honrar a memória dos pais, brutalmente assassinados num passado jamais esquecido. O cómico de situação é igualmente explorado de forma brilhante. Há acção pura e entretenimento garantido, como se de um animé com o mais ousado sentido pop se tratasse; valham-nos os efeitos digitais, que possibilitam as mais brutais e incríveis imagens, e a extraordinária noção de divertimento, que se deixa temperar q.b. com todos os diferentes ingredientes que compõem a obra. A fotografia de Katsumi Yanagijima, por exemplo, beneficia de uma mise en scène cuidada e de um detalhado jogo de cores; factores determinantes na criação de atmosferas. Destaque final para as excepcionais interpretações do elenco.

Em suma, um refrescante trabalho de Takeshi Kitano, que se estende da realização à montagem e do argumento ao papel de protagonista.

6 comentários:

  1. Já o vi há uns aninhos mas lembro-me que foi o filme do Kitano (dos que vi) que menos gostei.
    Em relação à colecção da Gente esta semana cá p'ra cima não saiu nenhum dvd. Por aí por Lisboa saiu?

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  2. ÁLVARO MARTINS: Pois, imagino que não tenhas gostado muito. Não é muito a tua cara, em termos de estilo sobretudo.
    Quanto a essa colecção fantasma, a qual - segundo li na net - houve quem procurasse durante horas a fio e de quiosque em quiosque, não saiu por aqui mais nada. Não encontrei ninguém que me soubesse dar uma explicação. Sairam os 8 DVDs no mesmo dia. Quem comprou, comprou, quem encontrou, encontrou. Uma iniciativa de excelência - de rara excelência - que merecia um planeamento de lançamentos. Algo me diz que, quando menos esperarmos, saem os filmes novamente. É ter em atenção. Mas não sei.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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  3. Kitano não se influência em Tarantino. Kitano nem sequer gosta dos filmes de Tarantino apesar de ter sido graças a tarantino que kitano ficou conhecido nos estados unidos. Takeshi Kitano detesta a acção de tarantino e o cinema americano. E pelo contrário, Tarantino é fã de Kitano, sendo este uma das suas influências.

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  4. ANÓNIMO: Sim, terás razão, porventura. Não conheço praticamente nada da obra do japonês. E sim, quem melhor do que Tarantino é susceptível a influências, não só evidentes como assumidas. Ao ver ZATOICHI encontrei Tarantino. Harold Bloom teria aqui muito a dizer, certamente.
    Da próxima vez, não te esqueças de assinar o teu comentário, anónimo ;)

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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  5. Eu gostei imenso deste filme,foi o primeiro Kitano que vi. Mas "Achiles e a tartaruga" é mais do meu agrado.

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  6. ENALDO: É bem bom, sem dúvida. Esse
    "Akiresu to kame" desconheço, fica a recomendação que desde já agradeço.

    Roberto Simões
    » CINEROAD «

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