segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A LISTA DE SCHINDLER (1993)

PONTUAÇÃO: EXCELENTE
★★★★★
Título Original: The Schindler's List
Realização: Steven Spielberg

Principais Actores: Liam Neeson, Ben Kingsley, Ralph Fiennes, Caroline Goodall, Jonathan Sagall, Embeth Davidtz, Malgoscha Gebel, Shmulik Levy, Mark Ivanir, Béatrice Macola, Andrzej Seweryn, Friedrich von Thun

Crítica:
O INFERNO NA TERRA


Whoever saves one life, saves the world entire.

Em 1933, a subida ao poder de Adolf Hitler instalaria - na Alemanha e nos seus sonhos de império - uma verdadeira ditadura de terror. O egoísmo e o racismo, o ódio e a intolerância, amplamente potenciados por uma arbitrariedade fanática e doentia, extreminariam - sem dó nem piedade - gerações inteiras de vidas humanas, tantas delas inocentes e alheias ao conflito. O Holocausto Nazi protagonizou, tão-somente, um dos mais negros, monstruosos e vergonhosos capítulos da História, identificando, discriminando, separando, concentrando e por fim dizimando polacos, eslavos e soviéticos, deficientes, homossexuais e dissidentes políticos e, entre tantos outros, milhões de judeus.


Today is history. Today will be remembered. Years from now the young will ask with wonder about this day. Today is history and you are part of it. Six hundred years ago when elsewhere they were footing the blame for the Black Death, Casimir the Great - so called - told the Jews they could come to Krakow. They came. They trundled their belongings into the city. They settled. They took hold. They prospered in business, science, education, the arts. With nothing they came and with nothing they flourished. For six centuries there has been a Jewish Krakow. By this evening those six centuries will be a rumor. They never happened. Today is history.
Amon Goeth

A Lista de Schindler é uma homenagem primeira a todas essas vítimas. É um daqueles raros casos em que a arte se aproxima, com manifesta autenticidade, da captação da realidade, condenando o passado e perpetuando a memória e a esperança rumo ao futuro. Note-se a coda: as notas de Williams e a cor de Kaminski fazem a ponte entre os dois tempos, sobre a qual caminhará a salvação, grata e honrada pela sobrevivência dos pais e avós. Depois, é claro, é uma homenagem ao herói e empresário alemão, o homem que salvou 1200 trabalhadores judeus dos horrores das câmaras de gás, dos campos de trabalho e dos fuzilamentos imediatos.

Amon Goeth: You want these people?
Oskar Schindler: These people. My people. I want my people.
Amon Goeth: Who are you? Moses?

Contudo, é sobretudo uma obra de arte e uma representação da realidade, não um pedaço de História ou um
documentário, por mais que as técnicas de filmagem imprimam realismo, nos intervalos do mais imaculado e refulgente preto e branco; e isso jamais deverá ser esquecido. A Lista de Schindler é uma obra de arte.

Quem foi Oskar Schindler? O retrato, que Steven Spielberg tão inspiradamente concretiza, traça-lhe um perfil enigmático. O protagonista é apresentado entre o luxo e pompa de um jantar: flui
o tango, as bailarinas, os cantores e a sucessão de flashes, note-se o refinado brio da direcção artística (Allan Starski, Ewa Braun) ou a aprimorada mise en scène, não só notável como irrepreensível. Com uma elegância ímpar, um braço estende a nota ao garçon. O Oskar Schindler de Liam Neeson é em tudo brilhante. Cravado ao peito, pode ostentar um distintivo do Partido Nazi, mas a sua atitude transcenderá a sua própria aparência: o seu sorriso misterioso e o seu olhar sedutor encobrem um homem tremendamente lúcido do seu poder, da sua influência e da sua humanidade.

The unconditional surrender of Germany has just been announced. At midnight tonight, the war is over. Tomorrow you'll begin the process of looking for survivors of your families. In most cases... you won't find them. After six long years of murder, victims are being mourned throughout the world. We've survived. Many of you have come up to me and thanked me. Thank yourselves. Thank your fearless Stern, and others among you who worried about you and faced death at every moment. I am a member of the Nazi Party. I'm a munitions manufacturer. I'm a profiteer of slave labor. I am... a criminal. At midnight, you'll be free and I'll be hunted. I shall remain with you until five minutes after midnight, after which time - and I hope you'll forgive me - I have to flee.
(...)
I know you have received orders from our commandant, which he has received from his superiors, to dispose of the population of this camp. Now would be the time to do it. Here they are; they're all here. This is your opportunity. Or, you could leave, and return to your families as men instead of murderers.
(...)
In memory of the countless victims among your people, I ask us to observe three minutes of silence.
Oskar Schindler

Com a ajuda do arguto e perspicaz contabilista Itzhak Stern (Ben Kingsley, num admirável underacting), Schindler começará a recrutar para a sua fábrica de tachos e panelas toda uma lista de trabalhadores, que lhe ficará eternamente agradecida. My father was fond of saying you need three things in life - a good doctor, a forgiving priest, and a clever accountant. Só o hilariante e tão bem montado casting das secretárias ficará a cargo do próprio Herr Direktor.


Itzhak Stern: By law I have to tell you, sir, I'm a Jew.
Oskar Schindler: Well, I'm a German, so there we are.


Itzhak Stern: Let me understand. They put up all the money. I do all the work. What, if you don't mind my asking, would you do?
Oskar Schindler: I'd make sure it's known the company's in business. I'd see that it had a certain panache. That's what I'm good at. Not the work, not the work... the presentation.

Oskar Schindler: In every business I tried, I can see now, it wasn't me that failed. Something was missing. Even if I'd known what it was, there's nothing I could have done about it because you can't create this thing. And it makes all the difference in the world between success and failure.
Emilie Schindler: Luck?
Oskar Schindler: War.

Ainda que não o pudesse assumir, para não ser exposto, a sua arrogante ganância tinha uma natureza profundamente ambígua e irónica. E é esse o enigma que vamos descodificando ao longo do filme. Porque razão aceitaria Schindler, por exemplo, um deficiente de um braço só, seleccionado por Stern, como trabalhador da sua indústria? Não daria tal admissão demasiado nas vistas? Schindler defenderá sempre os seus trabalhadores, mesmo frente às maiores autoridades, desculpando-se com o argumento de que são uma fundamental e imprescindível fonte de rendimento.

This list... is an absolute good. The list is life.
All around its margins lies the gulf.
Itzhak Stern

A montagem de Michael Kahn, mítico na sua relação com Spielberg, faz a alternância entre Herr Direktor Schindler e Herr Kommandant das SS Amon Goeth (Ralph Finnes, numa assombrosa interpretação), durante o acto de barbear, e contrapõe duas personalidades muito sui generis. Dois modelos completamente diferentes de alemão. Ambos são figuras poderosas e ambos se diferenciam tão radicalmente nas suas atitudes e comportamentos, naquilo que tão bem ou tão mal fazem com o poder que detêm. O primeiro salva vidas. O segundo extermina-as.

Oskar Schindler: Power is when we have every justification to kill, and we don't.
Amon Goeth: You think that's power?
Oskar Schindler: That's what the Emperor said. A man steals something, he's brought in before the Emperor, he throws himself down on the ground. He begs for his life, he knows he's going to die. And the Emperor... pardons him. This worthless man, he lets him go.
Amon Goeth: I think you are drunk.
Oskar Schindler: That's power, Amon. That is power.

Um corte abrupto da acção contrapõe a vida extremamente prazerosa dos militantes alemães com a marcha viril de dezenas de soldados sobre as ruas da humilhação. Constantemente deportados, só com o Blauschein tinham a possibilidade de, por tempo indeterminado, trabalharem. Só pelo Blauschein se distinguiam os trabalhadores essenciais dos (considerados) inúteis. Os restantes estavam todos condenados:


Not essential? I think you misunderstand the meaning of the word. I teach history and literature, since when it's not essential?
Chaim Nowak


Aquando da extradição para o ghetto, desfilam os figurinos (excelente trabalho de Anna Sheppard). Uma criança alemã injuria, cruel: Goodbye jews! Goodbye jews! Deste modo, é-nos dado o verdadeiro e terrível contexto da história. Sempre que escapamos à diegese principal, somos chamados a conhecer a experiência traumática dos secundários e figurantes, a fome, as doenças, os sapatos, os óculos, as pratas e as fotografias, os relógios e os dentes... que se amontuam por entre suspiros apavorados e abafados.

Daqui em diante, A Lista de Schindler torna-se progressivamente mais revoltante e repugnante para qualquer espectador com coração. A tragédia e o drama precipitam-se para o terror e os nossos olhos assistem, incrédulos, no mais valioso e inconsciente conforto. Pactuando com as atrocidades, a banda sonora realça o carácter lúdico e simultaneamente mórbido daquela brincadeira de vísceras e sangue; não admira, pois, que o filme se torne, não só forte como indigesto. E a extraordinária carga simbólica daquela menina de vermelho, que às tantas floresce do cinzento e percorre as ruas sem alento, é simplesmente genial. De uma sublimidade inquestionável. Pela manipulação do sistema cromático se atingiu um dos momentos maiores da História do Cinema. Creio que em poucas ocasiões se foi capaz de dizer tanto com tão pouco.

Com a destruição do ghetto, a obra atinge níveis de violência arrepiantes. Não há clemência. E daí ao fumo negro dos campos, onde rastejam esqueléticos cadáveres arquejantes... O filme é frio, é negro, é real. E tamanha consciência de realidade parte-nos o coração e envergonha-nos. Mesmo que não sejamos responsáveis. O final, ao som da tocante partitura de John Williams, faz-nos ter orgulho nas centelhas de humanidade que, tão fragilmente, se acendem e apagam no Inferno. Só uma réstea bem acalorada pode fazer a diferença, se alimentar a chama de um mundo melhor. A redenção existe, mas não é para todos.

There will be generations because of what you did.
Itzhak Stern

Uma curiosidade: Schindler's Ark, o título do romance original de Thomas Keneally, no qual se baseou o magnífico argumento de Steven Zaillian, estabelecia um paralelismo directo com a imagem bíblica da Arca da Aliança, que assegurou o futuro para as mais variadas espécies terrestres, aquando do grande dilúvio.


Conclusões: A Lista de Schindler é muito mais do que três horas de longa duração, como muitos criticam. É uma obra-prima incontestável, de uma enorme maturidade e de uma perfeição arrebatadora. Magistral, na arte de filmar. Uma grande reflexão sobre a humanidade e sobre o Holocausto Nazi. Um monumento. A Lista de Schindler é, enfim, Spielberg no seu melhor. Spielberg, o génio.

25 comentários:

  1. Humanismo irretocável de Spielberg. Uma cena mais dolorosa e inesquecível que a outra.

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  2. Ora aqui está um filme que nunca me inpressionou. Reconheço que é um grande filme, sem dúvida um dos melhores do Spielberg, se não o melhor. Mas nunca deixei de pensar que é muito sobrevalorizado. Não digo que é mau, chega quase a obra-prima. Eu gosto do filme, mas acho que falta qualquer coisa, não sei bem o quê, mas não o considero obra-prima. Talvez porque o tema seja repetitivo, mas sobretudo porque não gosto de judeus. Mas é claro que aceito quando dizes que é obra-prima, isso é inegável. Eu só falo do meu gosto e por isso para mim não chega à perfeição, mas é escolha pessoal.

    Abraços

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  3. GUSTAVO H.R.: Completamente de acordo :)

    ÁLVARO MARTINS: Pensei que o facto de não gostares de judeus fosse um ponto a favor para gostares do filme, uma vez que a obra de Spielberg, como se sabe, fala do extermínio de judeus. Mais ou menos tolerantes, todos gostamos mais ou menos de umas coisas ou de outras, de uns grupos ou de outros; seria hipócrita se não o assumisse. Mas é um argumento que não validarei como útil para a discussão de um filme enquanto obra de arte, que é o que aqui interessa. Jamais usaria o argumento «não gosto de judeus» para avaliar A PAIXÃO DE CRISTO ou «não gosto de sul-coreanos» para avaliar OLDBOY - VELHO AMIGO.

    Cumps.
    Filipe Assis
    CINEROAD – A Estrada do Cinema

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  4. Bem pelo contrário, Spielberg retracta os judeus como vítimas que foram (é incontornável) e enaltece a raça judia. É um filme a favor dos judeus, a favor de um homem que salvou centenas (não foi o único) e por isso tudo faz deles uns coitadinhos que foram exterminados e para que tenhamos pena deles. Mas ainda não fizeram um filme a mostrar o que os judeus fazem actualmente aos palestinos. Mas isso são conversas à parte.

    Claro que o filme é tendencioso e só tinha de o ser. É um filme sobre o holocausto e tem que ser a favor dos judeus, porque foram realmente exterminados e foram massacrados.
    Claro que o não gostar de judeus não é argumentação na cabeça de ninguém. Foi só um desabafo. Por isso disse que é um grande filme. Disso não há dúvidas.

    Abraços

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  5. ÁLVARO MARTINS: O facto de judeus exterminarem palestinos não desculpa as atrocidades cometidas no passado. Nem sequer os responsáveis são os mesmos.
    Grande filme, sem dúvida. Extraordinário. Partilhamos, parece-me, a mesma opinião pelo filme (ainda que eu com mais entusiasmo).

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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  6. Sim um grande filme. Ainda assim identifico-me um pouco com o Álvaro. Há qualquer coisa que não me permite gostar mais. Muito provavelmente pelo facto de a fórmula se ter repetido, e muito, depois de este A Lista de Schindler se revelar ao mundo. Um pouco como a tua pontuação que revela não estar no topo dos topos.

    Agora e tecnicamente esta película é simplesmente brutal. Não vejo a utilização do preto e branco tão bem utilizada e certeira desde o Raging Bull. Daquilo que vi obviamente. Muito bom.

    Também gosto bastante das interpretações, facto que ressalta muito. Só a duração é que me impede de o revisitar mais vezes. Porque com mais visualizações acredito que a obra se revelar-se-ia no seu máximo esplendor. É Spielberg com coração e arte ao mesmo tempo.

    abraço

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  7. A propósito do preto e branco vejam Tarr eheh

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  8. Devo confessar que sempre achei este filme um dos mais fracos do Spielberg. Não tecnicamente, mas por causa do argumento e tema.
    Não sei se foi por ter lido e visto imagens reais do Holocausto, que quando vi este filme, senti que o Spielberg perdeu toda a vergonha e subtileza na sua procura do oscar.

    Sobre o mesmo tema acho por exemplo o recente The Boy in the Striped Pyjamas muito superior.

    Acho que o própio Spielberg sentiu que foi demasiado longe no Schildler's List and tentou redimir-se com o muito mais equilibrado Munich.

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  9. de 0 a 5 dou 6...... tema repetitivo?? talvez, mas nunca foi tão bem tratado como aqui...
    Ir longe demais é algo que não é possível... É como o humor... Desde que se faça com talento, pode-se fazer humor com qualquer tema... Aqui é igual! Quando se trata de revelar algumas atrocidades feitas no passado, porque não aproveitar o talento de Spielberg e fazer um dos melhores filmes de sempre??

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  10. Não gosto nada... Nos anos 90, o Spielberg resolveu retratar a 2ª Guerra Mundial, nódoa negra na nossa história, através de uma história de sucesso e com esperança por todo o lado. Ou seja, é uma mentira do princípio ao fim.

    Acho que foi o Kubrick que disse que "o Holocausto é sobre 6 milhões de pessoas que morreram e a Lista de Schindler é sobre uns milhares que sobreviveram.." Não duvido que esteja cheio de boas intenções mas como retrato da época é uma nódoa. Para isso veja-se o Grande Ditador do Chaplin, feito durante a 2ª Guerra, o Sombras e Nevoeiro do Resnais ou o Vem e Vê do Elem Klimov..

    É preciso aliar uma certa responsabilidade e uma gravidade imensa ao retrato do Holocausto, não chega encomendar uma banda-sonora cheia de violinos ao John Williams e ilustrá-lo com um preto e branco pseudo tristonho e taciturno...é o que eu acho.

    (atenção, que eu gosto do Spielberg, só não suporto este e o Resgate do Soldado Ryan, mais valia ter estado quieto)

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  11. @João Bastos
    Quando me referi a ir longe demais, falava numa agenda claramente tendenciosa que mostra os judeus como coitadinhos que não fazem mal a ninguém. Demasiado lamechas e manipulativo para um tema que merece mais respeito e subtileza correndo o risco de vulgarizar-se. Obviamente que foram vítimas durante o jugo Nazi, mais do que qualquer outro povo, mas quando o filme saiu, face ao comportamento de Israel na altura, soa a propaganda política. Alguns filmes têm um tempo próprio, e uma forma adequada de retratar certos temas, fora dos quais tornam-se ridículos ou a sua mensagem perde fulgor e impacto. Na minha opinião, foi o que sucedeu com o Shindler's List, e razão pela qual achei o Striped Pyjamas mais poderoso. Eu não sou anti-semita e sei reconhecer que o povo judeu foi ao longo da história tanto vítima como predador. Com Munich, o Spielberg equilibrou as coisas, mostrando que os judeus são como todos os outros povos, capazes do bem e do mal, e quão difícil é por vezes distinguir entre os dois.

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  12. Apesar de não ser o meu preferido do senhor Spielberg (esse lugar está reservado para o JURASSIC PARK - filme que marcou a minha infância), a Lista de Schindler é capaz de ser um dos filmes mais bem produzidos de sempre. A fotografia é divinal, bem como a banda sonora. As interpretações do Liam Neeson e do Ralph Fiennes são umas das que irão ficar certamente na História do Cinema, e também acho que o tema foi tratado de uma forma bastante respeitosa, sempre com uma enorme sensibilidade e um grande humanismo. It breaks my heart every single time.

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  13. O melhor de Spielberg e um dos meus filmes preferidos. Lindo demais.

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  14. Por falar em filmes a preto e branco deliberadamente por opção, temos sempre o magnífico PSYCHO. Quanto ao Control e ao Laço Branco ainda não vi.

    Esta Lista de Schindler pode não ser a obra prima absoluta que muitos proclamam (na minha opinião) mas que detém uma aura particular lá isso...nota-se Spielberg por muito lado.

    abraço

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  15. É um filme grande. Tiremos toda a questão social, política e histórica. Por que não nos permitimos fugir, por momentos, da realidade que hoje ainda nos assombra? Ficamos com uma pérola cinematográfica - que, sim, não é perfeita nem nenhuma obra-prima - lindíssima. Adoro sobretudo a segunda parte do filme, a primeira estende-se demasiado. Adoro todo aquele preto e branco, os raios de luz no deslumbrante desespero daquela criança, no meio do medo último. Sim... é um filme poderoso, bem construído, que, quando vi, me disse muito. Hoje, se revisse, não sei se tanto me dizia, mas sem dúvida que é um irrepreensível feito artístico e técnico.

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  16. A primeira vez que o vi foi numa aula de História no 8ºou 9ºano e logo nessa altura me marcou pelas imagens impressionantes dos campos de extermínio dos judeus. Numa segunda visualização pude apreciar a fotografia a p.b maravilhosa. Mas apesar da mensagem humanista poderosa talvez seja positivista em demasiado. É a obra mais próxima da perfeição de Spielberg mas não o meu preferido (é a triologia do Indiana, talvez um guilty pleasure...)

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  17. O trio Spielberg-Williams-Kaminsky pontua mais do que nunca.
    Grande Ralph Fiennes.

    Obra-prima

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  18. Quando o vi marcou-me, penso que é um grande filme.Hoje com algum distanciamento apetece questionar para quando um filme que mostre as atrocidades que os judeus têm feito aos palestinianos.Já que este é nitidamente um filme a favor dos judeus.

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  19. Não tenham ilusões, caros cinéfilos, a fábula do lobo e do cordeiro só existe mesmo nos livros. Na realidade todos somos capazes do melhor e, sobretudo, do pior. A 2ª Guerra Mundial e o holocausto nazi apenas extremaram o lado mais radical dessa dualidade e daí as consequências nefastas que se verificaram.
    Ora o filme do Spielberg situa-se precisamente nessa época, onde Israel ainda não era um Estado (foi auto-proclamado como devem saber três anos após o fim das hostilidades, em 1948) e consequentemente o conflito israelo-árabe ainda não tinha os contornos que hoje todos conhecemos.
    É por isso que não faz muito sentido, a propósito de "The Schindler's List", falar-se do que os judeus fazem aos palestinianos e vice-versa. Julgo que se deve comentar o filme integrando-o apenas na época por ele retratada. E nessa época os judeus eram perseguidos mais por causa da doutrina religiosa do que por qualquer ideologia política. Lembro que durante os anos da Guerra os judeus tanto eram alemães como polacos ou franceses ou americanos ou de qualquer outra nacionalidade (afinal como continua um pouco a acontecer na actualidade).
    Há relativamente pouco tempo revi um curioso filme do Elia Kazan intitulado "Gentlemen's Agreement" ("A Luz é Para Todos", na tradução portuguesa), no qual um jornalista (Gregory Peck) é incumbido de escrever um artigo sobre o anti-semitismo e a maneira de melhor o conseguir fazer é fazer-se passar por judeu e assim sentir na pele o significado de tal anátema. O filme é de 1947 e lembro-me de pensar, enquanto o via, que ele se encontraria datado, que os preconceitos nele expostos já estariam hoje em dia completamente ultrapassados. Ao ler alguns dos comentários aí de cima verifico que afinal o filme de Kazan se encontra mais actual do que nunca e por isso mesmo o recomendo a todos quantos ainda não conseguem ver num homem apenas... um homem.
    Quanto ao filme do Spielberg, e comentando-o unicamente do ponto de vista artístico, trata-se efectivamente de uma obra a ter em conta na filmografia do realizador americano que no entanto já nos deu filmes bem mais interessantes. Lamenta-se apenas aquele epílogo que soa um pouco a revanchismo. Sobre o mesmo tema prefiro o filme do Polanski, o "Sombras e Nevoeiro" do Resnais ou sobretudo um filme polaco de 1963 intitulado "Pasazerka" ("A Passageira"), último filme do realizador Andrzej Munk. A série televisiva "Holocausto", exibida na RTP no final dos anos 70 e já disponível em DVD, também consegue dar boas pistas sobre as mentalidades da época.

    O Rato Cinéfilo

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  20. O Noite e Nevoeiro do Resnais é sem dúvida perturbador, mas espectacular. Adoro.

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  21. KING MOB: THE BOY IN THE STRIPED PYJAMAS superior a THE SCHINDLER'S LIST?? Posso estar enganado, mas julgo que por muito poucas vezes estive tão em desacordo com alguém. Que crassa heresia, na minha opinião.

    JOÃO BASTOS: Subscrevo cada palavra ;)

    JOÃO PALHARES: Não me revejo na tua opinião nem por uma unha negra.

    NUN0B: Estamos em sintonia plena, menos na obra preferida de Spielberg ;D

    WALLY: Um dos melhores, ao lado de O RESGATE DO SOLDADO RYAN e INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL. Adoro também O IMPÉRIO DO SOL e GUERRA DOS MUNDOS.

    NEKAS: Está mesmo!

    JORGE: Para mim, estamos mesmo perante uma obra-prima. Pura arte em movimento.

    FlÁVIO GONÇALVES: Tendo a concordar, mas considero-a uma obra-prima. E não penso que se demore. São instantes de perfeição, quanto a mim. De um virtuosismo impressionante.

    DEZITO: A primeira vez que o vi também foi numa aula de história; que professora que tive, a propósito. Um filme maior, independentemente das leituras históricas.

    RUI FRANCISCO PEREIRA: Estamos em perfeito acordo.

    MANUELA COELHO: Talvez uma nova visualização te desperte para os encantos eternos de tamanha obra.

    RATO: Partilho da tua opinião no que se refere às leituras históricas que, hoje em dia, insistem em denegrir a qualidade do filme.
    Talvez o filme soe mesmo um pouco a revanchismo, a ajuste de contas, e não creio que isso o prejudique artisticamente.

    Obrigado a todos pelos comentários!

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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  22. Uma obra-prima de emoções endereçadas com uma dureza fria, orquestrada com mestria por Spielberg.

    Cumprimentos,

    Gonçalo Lamas

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  23. GONÇALO LAMAS: Sem dúvida, sem dúvida. Estamos de acordo.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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  24. Não vou abordar a questão dos judeus, não caberia aqui (por sua extensão, a questão é sempre pertinente). Sobre a questão do lobby cinematográfico pró-Israel vale a pena ver "Defamation". http://panoticum.blogspot.com/search/label/Defamation

    Quando vi A Lista de Schindler me impressionaram dois actores até então desconhecidos: Ralph Fiennnes (nunca o vi tão bem quanto nesta ocasião) e Liam Neeson (menos um pouco).

    Não tenho um conceito ou uma definição clara do que vem a ser uma obra-prima, e tenho observado que esta discussão reaparece constantemente em vossos comentários (não vai aqui nenhuma censura, nenhum demérito). Então, à maneira tradicional, dou 9.5 a este filme. E por que não 10? Porque Spielberg ainda nos deve um pouco mais.

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