★★★★★
Realização: David Lean
Principais Actores: Peter O'Toole, Omar Sharif, Alec Guinness, Anthony Quinn, Jack Hawkins, José Ferrer, Anthony Quayle, Claude Rains
Crítica:
Lawrence da Arábia é um feito extraordinário, glorioso e monumental. Por meio de uma poderosíssima narrativa visual e de uma cadência natural para o espectáculo, David Lean presenteia-nos com uma obra essencial, capaz de nos transportar para o fulgor das batalhas, para o suor das travessias e para a escaldante aragem que se faz sentir entre dunas e rochedos, na imponência e majestade do deserto. Uma obra com um argumento recheado de frases memoráveis e que viria a marcar para sempre todo o cânone épico.
Do Cairo à conquista de Aqaba, da reunificação das fracções árabes ao confronto maior contra os turcos, da tortura de Deraa ao massacre de Tafas, da crise identitária de um homem à estratégias políticas de vários povos em conflito... o filme adapta a autobiografia Sete Pilares da Sabedoria, de T.E. Lawrence - a poet, a scholar and a mighty warrior (...) also the most shameless exhibitionist since Barnum & Bailey - um excêntrico e erudito oficial inglês que provocaria o exército real no sentido de se libertar daquele escrupuloso modo de vida e que se desafiaria a si próprio numa árdua e ambiciosa odisseia pela liberdade e pela afirmação da cultura árabe.
So long as the Arabs fight tribe against tribe, so long will they be a little people, a silly people - greedy, barbarous, and cruel, as you are.
No Arab loves the desert. We love water and green trees. There is nothing in the desert and no man needs nothing.
Peter O'Tolle é simplesmente magnífico enquanto T.E. Lawrence - sempre dotado de um portentoso charme e elegância, sublime nos trejeitos e subtilezas intrínsecas ao carácter da figura histórica. E se há coisa em que o argumento (Robert Bold e Michael Wilson) é exímio é na construção da personagem de O'Toole, onde tanto se revela na riqueza das entrelinhas e dos pequenos pormenores. É uma personagem com um sentido de humor notável e com uma inteligência muito perspicaz:
Mas há outros desempenhos inesquecíveis, neste elenco de homens: Alec Guiness (o príncipe Feisal) e Omar Sharif (xerife Ali) são os principais destaques.
Há, depois, dois departamentos fundamentais e decisivos para a grandiosidade da obra. Refiro-me, inequivocamente, à fotografia de Freddie Young (um trabalho do mais alto nível, absolutamente espantoso, impressionante e hipnotizante: veja-se a beleza de planos e enquadramentos, o assombro de paisagens e fenómenos naturais) e também à banda sonora de Maurice Jarre (de uma gradiloquência barroca). Mas o filme revela-se ainda irrepreensível a tantos outros níveis: na encenação e direcção de actores, de extras e de animais, nos cenários e na decoração, no guarda-roupa e acessórios, no som... Enfim, o arrojo de toda produção é assaz notável.
Clássico? Com certeza. Um gigantesco clássico, este brilhante e corajoso devaneio de Hollywood.
UM OÁSIS NO DESERTO
- What attracts you personally to the desert?
- It's clean.
- It's clean.
Lawrence da Arábia é um feito extraordinário, glorioso e monumental. Por meio de uma poderosíssima narrativa visual e de uma cadência natural para o espectáculo, David Lean presenteia-nos com uma obra essencial, capaz de nos transportar para o fulgor das batalhas, para o suor das travessias e para a escaldante aragem que se faz sentir entre dunas e rochedos, na imponência e majestade do deserto. Uma obra com um argumento recheado de frases memoráveis e que viria a marcar para sempre todo o cânone épico.
There is the railway. And that is the desert. From here until we reach the other side, no water but what we carry with us. For the camels, no water at all. If the camels die, we die. And in twenty days they will start to die.
Do Cairo à conquista de Aqaba, da reunificação das fracções árabes ao confronto maior contra os turcos, da tortura de Deraa ao massacre de Tafas, da crise identitária de um homem à estratégias políticas de vários povos em conflito... o filme adapta a autobiografia Sete Pilares da Sabedoria, de T.E. Lawrence - a poet, a scholar and a mighty warrior (...) also the most shameless exhibitionist since Barnum & Bailey - um excêntrico e erudito oficial inglês que provocaria o exército real no sentido de se libertar daquele escrupuloso modo de vida e que se desafiaria a si próprio numa árdua e ambiciosa odisseia pela liberdade e pela afirmação da cultura árabe.
So long as the Arabs fight tribe against tribe, so long will they be a little people, a silly people - greedy, barbarous, and cruel, as you are.
No Arab loves the desert. We love water and green trees. There is nothing in the desert and no man needs nothing.
Peter O'Tolle é simplesmente magnífico enquanto T.E. Lawrence - sempre dotado de um portentoso charme e elegância, sublime nos trejeitos e subtilezas intrínsecas ao carácter da figura histórica. E se há coisa em que o argumento (Robert Bold e Michael Wilson) é exímio é na construção da personagem de O'Toole, onde tanto se revela na riqueza das entrelinhas e dos pequenos pormenores. É uma personagem com um sentido de humor notável e com uma inteligência muito perspicaz:
A thousand Arabs means a thousand knives, delivered anywhere day or night. It means a thousand camels. That means a thousand packs of high explosives and a thousand crack rifles. We can cross Arabia while Johnny Turk is still turning round, and smash his railways. And while he's mending them, I'll smash them somewhere else. In thirteen weeks, I can have Arabia in chaos.
Mas há outros desempenhos inesquecíveis, neste elenco de homens: Alec Guiness (o príncipe Feisal) e Omar Sharif (xerife Ali) são os principais destaques.
Young men make wars, and the virtues of war are the virtues of young men: courage, and hope for the future. Then old men make the peace, and the vices of peace are the vices of old men: mistrust and caution.
Há, depois, dois departamentos fundamentais e decisivos para a grandiosidade da obra. Refiro-me, inequivocamente, à fotografia de Freddie Young (um trabalho do mais alto nível, absolutamente espantoso, impressionante e hipnotizante: veja-se a beleza de planos e enquadramentos, o assombro de paisagens e fenómenos naturais) e também à banda sonora de Maurice Jarre (de uma gradiloquência barroca). Mas o filme revela-se ainda irrepreensível a tantos outros níveis: na encenação e direcção de actores, de extras e de animais, nos cenários e na decoração, no guarda-roupa e acessórios, no som... Enfim, o arrojo de toda produção é assaz notável.
Clássico? Com certeza. Um gigantesco clássico, este brilhante e corajoso devaneio de Hollywood.