★★★★
Título Original: About SchmidtRealização: Alexander Payne
Principais Actores: Jack Nicholson, Hope Davis, Dermot Mulroney, Kathy Bates, June Squibb
Crítica:
Crítica:
A ÚLTIMA ESTRADA
Remember that, young man:
you've got to appreciate what you have, while you still have it.
you've got to appreciate what you have, while you still have it.
As Confissões de Schmidt, de Alexander Payner, resulta numa comovente e reflexiva tragicomédia sobre a chamada terceira idade. Sem quase dar por isso, a vida voou e Warren Schmidt conta os segundos para se despedir, definitivamente, do escritório e da empresa aos quais dedicou a vida. Reformado e sem nada para fazer, resta-lhe o dia-a-dia doméstico com a mulher que conhece de trás para a frente, a tal que tem sempre razão e que o convenceu a urinar sentado, que tira a chave da mala muito antes de chegar a casa e da qual já não suporta o cheiro ou a forma como se senta. Até que... a mulher morre, subitamente. E, de um dia para outro, não só está reformado como viúvo, verdadeiramente só. A filha que tanto estima na memória vive longe, está prestes a casar-se com um futuro genro que detesta, um vendedor de colchões de água com uma barba e um penteado tão hippie como as ideias levianas da sua mãe Roberta (desconcertante Kathy Bates). Abismado pela profunda falta da esposa, incapaz de chorar ou de assumir a sua dor, Schmidt acaba por valorizar a sua querida Helen, com quem partilhou um longo casamento, mas... Ao desfiar recordações, dá com cartas de amor antigas, endereçadas à mulher... pelo seu melhor amigo... Reformado, viúvo e... traído. Não é de espantar, pois, que o pobre Schmidt se deixe ir abaixo num desmazelo depressivo, deixando-se arrastar pela casa, de pijama, dias a fio - desponta a barba - sem lavar um prato ou ir ao lixo, enquanto a sua existência não voltar a ter um sentido.
Relatively soon, I will die. Maybe in 20 years, maybe tomorrow, it doesn't matter. Once I am dead and everyone who knew me dies too, it will be as though I never existed. What difference has my life made to anyone. None that I can think of. None at all.
Para quem nunca desabafa sobre si mesmo, a catarse - e a narração - desperta no sofá, em frente ao televisor, enquanto assiste a um anúncio sobre solidariedade e ajuda internacional a crianças desprotegidas em África, por apenas vinte e dois dólares por mês. Conquistado pela retórica publicitária, abraça humana e despretensiosamente a missão, que lhe trará algum significado à vida ou conforto ao coração, por saber que pode ser útil e ajudar uma de muitas pobres crianças em dificuldades. Começa a escrever cartas a um tal Ndugo e para nós, espetadores, é como se no-las lesse. É a sua voz interior, a que finalmente ouvimos e a que ele, creio, finalmente ouve também. Certa madrugada decide-se, agarra nas malas e faz-se à estrada na sua novíssima e luxuosa Winniebago de dez metros (mais um dos caprichos da mulher, que não teve tempo de nela partilhar com o marido as viagens dos seus sonhos). A viagem pela auto-descoberta nesta nova e provavelmente última etapa de vida começa. Há que reconhecer que está na hora de deixar a filha seguir o seu próprio caminho, há que aprender a reinterpretar toda a sua existência e o seu papel no mundo.
I know we're all pretty small in the big scheme of things, and I suppose the most you can hope for is to make some kind of difference, but what kind of difference have I made? What in the world is better because of me?
Que outro ator senão Jack Nicholson poderia interpretar este sexagenário de forma tão avassaladoramente profunda, sentida e real? A sua carga emocional é tremenda e a sua performance assaz brilhante, cativante e memorável. É por reconhecermos Nicholson mais jovem e de icónicos papéis mais excêntricos e arrogantes - entra imediatamente em jogo a nossa memória como espetadores de cinema - que sentimos ainda mais intensamente a sua dor, tão parca em palavras. Schmidt é um ser, às tantas, totalmente devastado e desencantado pelas circunstâncias que, sabemos, nos esperam a todos - é também por essa identificação, por sabermos o que nos espera também a nós, que o lado satírico e filosófico resulta tão eficazmente. O argumento da dupla Payne e Jim Taylor, a partir do romance de Louis Begley, é, neste aspeto, particularmente incisivo e inteligente. No último acto, a fluída montagem de Kevin Tent desenboca nalgum sentimentalismo exagerado, ao qual se apressa a dar a mão a banda sonora de Rolfe Kent, mas o tom narrativo inicial torna ainda antes do fim e da carta de Ndugu, escrita por uma freira local.
As Confissões de Schmidt ganhará certamente com o envelhecimento do próprio espetador, à medida que se estreitarem as afinidades com o protagonista. Jack Nicholson tem aqui um dos seus desempenhos mais surpreendentes e intensos.
Estive com ele na mão há pouco:O Faz parte da minha DVDteca, mas ainda não o vi. Aguardo ansiosamente a crítica:)*
ResponderEliminarEstá aqui para ver e não passa desta semana. Logo te direi a minha opinião :D Que venha o texto!
ResponderEliminarP.S.: "O Quarto do Filho" na FNAC está a três euros e tal, também.
Abraços!
Também o comprei mas ainda não o vi :)
ResponderEliminarADEK: Aí está a crítica ;) Da minha DVDteca também faz parte, mas na verdade não foi grande aquisição.
ResponderEliminarFLÁVIO GONÇALVES: Não será por acaso que tanta gente tem o DVD e ainda não o viu ;D Deve ser o feeling.
Quanto ao teu P.S., verificarei quando for à FNAC. Se o encontrar, comprá-lo-ei.
ÁLVARO MARTINS: Aposto que não vais gostar.
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Transpira a indie por todos os lados, mas o problema é a indecisão do realizador. Não sabe o que quer, e a meio da película o argumento não sabe os seus intentos. Mas não deixa de ser uma excelente aposta, com um excelente actor, e um excelente final!
ResponderEliminarAbraço
Vou vê-lo hoje, curiosamente. Sempre me despertou muito interesse, e esperava uma nota maior.
ResponderEliminarDepois logo vês se concordo contigo ou não ;)
Abraço
Bem, já vi o filme, e acabo por ir ao encontro da tua opinião.
ResponderEliminarÉ pena o argumento, porque a realização é boa e Nicholson está excelente.
Abraço
Classificação re-atribuída a 11-02-2014.
ResponderEliminarCINEROAD.blogspot.pt