Eis uma das obras maiores do cinema, sobre o cinema. Uma das obras mais «deliciosas» de que há e haverá memória.
A infância de Totó é a descoberta e o fascínio pelo cinema. A sua adolescência é a tentativa de fazer o seu próprio filme. Mas... «A vida não é como no cinema... é bem pior», diz-lhe Alfredo, numa das muitas cenas inesquecíveis. E esta é a frase-chave para entender as opções futuras de Totó, aconselhado pelo velho projeccionista do Cinema Paraíso: partir da cidade sem pensar voltar um dia, esquecer o amor por Elena, e seguir os seus sonhos, o seu dom especial para conceber cinema, fazendo assim sonhar um mundo inteiro, inspirando gerações inteiras, com os seus filmes. «A vida não é como no cinema... é bem pior». Se tivesse ficado na cidade em que nada acontece, jamais o teria feito, teria provavelmente lutado e sofrido a dureza de um amor impossível, trabalhando como projeccionista num cinema que um dia cairia sob o domínio da caixa mágica, do televisor, e da era do cinema em casa.
A minha dúvida é a de todos. Até que ponto é que Alfredo, «o velho maluco», não acabou também por provocar a infelicidade pessoal de Totó? «Nunca concordarei com ele, nunca», diz Totó, perto do final. Afinal, o protagonista nunca viveu o seu próprio filme em detrimento dos muitos outros que fez.
Uma coisa é certa: graças a Alfredo, Totó saltou da plateia para a tela do cinema e eternizou-se.
CINEMA PARAÍSO é, por tudo isto, um hino e uma homenagem à arte maior do cinema. Um filme excelente, de muito bom humor, com uma realização inspiradíssima de Giuseppe Tornatore. Espontanea e perfeitamente protagonizado pelo pequeno Salvatore Cascio e depois por Marco Leonardi e por Jacques Perrin e sem esquecer o grande nome de Philippe Noiret. O elenco é maravilhoso. Destaques especiais para a montagem do filme e para uma das suas almas maiores... a banda sonora composta pelo génio imenso de Ennio Morricone. Em suma, um dos melhores filmes de sempre.